sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O homem que proferiu a oração do Pai-Nosso Que mundo é este em que vivemos? Harold Bloom, pensador e crítico literário americano, apon¬ta a brilhante inquietação de Blaise Pascal diante dos mistérios que cercam a existência (Bloom, 2004): Quando considero a brevidade da minha vida, engolida pela eternidade antes e depois, o pequeno espaço que preencho e que sou capaz de enxergar, tragado na imensidão infinita de espaços sobre os quais sou ignorante, e que não me conhecem, fico assus¬tado e atônito por estar aqui... Quem me colocou aqui? Por or¬dem e instrução de quem este tempo e lugar me foram alocados? A brevidade da vida é espantosa, e os fenômenos que a en¬volvem são assombrosos. Choramos ao nascer, sem compreen¬der o mundo em que entramos. Morremos em silêncio, sem en¬tender o mundo de que saímos. Quem nos colocou no anfiteatro da existência para saborear a vida e depois de alguns momentos nos fazer despedir dela co¬mo névoa que se dissipa ao calor do sol? Foram os fenômenos que surgiram do vácuo existencial? Foi o "nada" que despertou do sono de ser coisa nenhuma e resolveu vestir a roupagem dos elementos reais? Ou foi Deus, o Criador, o Autor da existência, a origem de tudo o que existe, independentemente do nome que se atribui a Ele e da religião que se usa para compreendê-lo? Ao longo deste livro falarei das idéias dos grandes ateus. A grande maioria deles existiu por causa das loucuras praticadas pelas religiões, como a discriminação, a exclusão, as injustiças, as guerras e os massacres. Eram, na verdade, anti-religiosos, e não ateus. Meu ateísmo foi diferente. Procurando sair do superficialismo, estudei séria e criticamente a possibilidade da ine¬xistência de Deus sob o foco da psicologia. Falarei sobre esse assunto em diversos capítulos. Mas quero expor agora uma das conclusões. Esforcei-me muitíssimo para eliminar Deus como possibili¬dade de ser o Autor da existência. Depois de inúmeras viagens intelectuais e momentos reflexivos, tive que engolir em seco e admitir que é impossível não haver Deus. Antes da existência do mundo, de qualquer ser, de microorga¬nismos, galáxias, planetas, estrelas, átomos ou partículas atômicas, havia o "nada", o vácuo existencial. Em meu discurso ateísta pen¬sei: "No princípio era o nada e o nada gerou todas as coisas." Mas depois de inúmeras reflexões e análises, percebi que is¬so era impossível. O nada jamais poderá ser despertado do sono da irrealidade, pois vive o pesadelo eterno da inexistência. Nem o vácuo existencial pode ser assombrado pelo pesadelo da reali¬dade e assumir o status dos fenômenos reais, pois é eternamen¬te estéril. O nada è o vácuo existencial não são criativos. Só a existência pode gerar existência. Tal abordagem leva a uma grande tese filosófica: Deus não é uma hipótese da fé, mas uma verdade científica. Se eliminarmos Deus do processo criativo, eliminamos a própria existência, re¬tornamos ao vácuo completo, imergimos na esterilidade tirânica do nada. Pode-se usar qualquer teoria para explicar o mundo e a na¬tureza - do big-bang à teoria da evolução biológica -, mas ne¬nhuma delas pode incluir o "nada" ou o "vácuo existencial" na origem. Em algum momento da cadeia de indagações, Deus - ou o nome que se queira dar a ele - tem de aparecer. Só não apare¬cerá se a seqüência de perguntas for interrompida, seja pelo ateísmo, pelo preconceito, seja, principalmente, pela dificuldade de expandir a arte da dúvida e o mundo das idéias.

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